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Como falar da morte às crianças - parte II




 
COMO FALAR DA MORTE ÀS CRIANÇAS
Parte II



Se não leu a primeira parte deste artigo, clique aqui: 



Peparar uma criança para a perda de alguém deve fazer parte da vida de todos os dias e ajudará a criança a aceitá-la melhor como um processo natural. Flores que secam e morrem, um animal de estimação que adoece e morre podem providenciar uma oportunidade para falar à criança desta inevitabilidade.


É possível falar à criança das pessoas mais idosas que ela conhece, do seu processo de envelhecimento e morte. Podem encontrar-se alguns livros que facilitam este diálogo, que se forem lidos em conjunto permitirão abordar com a criança os sentimentos que desenvolve sobre o assunto.

Quando a morte acontece numa família, os pais e outros familiares por vezes não encontram palavras para explicar às crianças e ajudá-las deste modo a lidar com o acontecimento. Contudo, as crianças necessitam dos adultos para as ajudar a lidar com a morte. Então, como explicar a morte às crianças?

- Fale com palavras simples;
- Seja verdadeiro;
- Não hesite em usar palavras como “morto” e “morte”;

Encoraje a criança nas suas perguntas: “O que é a morte?”. Pode responder-lhe: “Morte significa que o corpo parou de trabalhar e não consegue fazer nada do que fazia antes: não fala, não vê, não ouve, não pensa, não sofre, não sente nada”.

Dependerá das convicções religiosas de cada família, mas esta é uma altura importante para confrontar correctamente a criança com as suas bases existencialistas (da família ou da sua cultura). É no entanto FUNDAMENTAL QUE ESSAS CONVICÇÕES AJUDEM A RESOLVER O PROBLEMA E NÃO A COMPLICÁ-LO AINDA MAIS. Por exemplo, para os cristãos, uma das mais poderosas ajudas que pode ser dada neste âmbito a uma criança é tranquilizá-la informando-a do facto de que a pessoa morta está a”dormir” e que um dia irá acordar. Mostrar-lhe a naturalidade do “sono” e ajudá-la com uma das promessas da Bíblia – que aponta para Jesus como o autor da ressurreição quando Ele voltar – trará tranquilidade perante a condição mortal da humanidade. É altura para ler com a criança a história da vida de Jesus, e do seu encontro com a menina de doze anos morta na sequência de uma doença. Em torno do texto a criança pode construir a sua relação de modo integrado.

Este contacto com a criança deve ser feito preferencialmente sentando-a ao seu lado, tomando-a nos braços e explicando-lhe com palavras simples tais como: “Aconteceu uma coisa muito, muito triste. O papá adoeceu com uma doença grave que nem toda a gente tem e morreu. A culpa da morte não é dele, não é tua. Vamos sentir muito a falta dele porque gostávamos muito dele e ele amava-nos muito”. É necessário explicar-se à criança que a consequência do adoecer nem sempre é a morte. 


Devem as Crianças Assistir ao Funeral?

Muitos perguntam se as crianças devem assistir a um funeral. Deve ter-se em conta os sentimentos das crianças. Se não quiserem ir, não devemos forçá-las nem fazê-las sentirem-se culpadas por não quererem ir. Se quiserem ir, devemos apoiá-las, dar-lhes uma descrição detalhada, através de palavras simples, do que irá ter lugar e até do facto de haver um caixão que pode estar aberto ou fechado. Explique-lhe também que verá muitas pessoas a chorar porque estão tristes. Mais uma vez, responda às suas perguntas e assegure--lhe de que pode não assistir, se quiser. Mas se ela decidir ir, ajude-a, entre outras coisas, a compreender que existem algumas noções de higiene que devem ser respeitadas. Na cultura portuguesa o beijo ao morto constitui um dos hábitos mais insalubres que podem ter lugar. Assim se transmitem muitas doenças e se prejudica a saúde. Por isso ajude-a a construir uma relação mais saudável estando perto dela para evitar qualquer perda de controlo (como querer atirar-se para o morto ou mesmo para o buraco onde o caixão irá ser colocado). Motive-a a não dar beijos indiscriminadamente salvaguardando assim a transmissão microbiana provocada pelo acto, mesmo se praticado só por uma pessoa no funeral. 


Como Não Falar da Morte às Crianças

Não utilize certos termos quando falar com as crianças, pois pode confundi-las. As crianças tendem a perceber as coisas muito “à letra”:

- As crianças sentirão medo de dormir e da hora de deitar se lhes disser “está a dormir” e não compreenderem que depois “voltarão a acordar”, como aconteceu com a menina acima referida;
- As crianças sentirão a angústia da separação se lhes disserem “foi-se embora” ou “foi fazer uma longa viagem”;
- As crianças sentirão medo ou odiarão Deus se lhes disser: “Deus quis a avó perto d’Ele”. 


Como Ajudar a Criança a Lidar Com a Perda

As crianças nem sempre mostram que estão deprimidas. Como já referimos, sintomas como a alteração no seu comportamento habitual e nas suas interacções diárias são sinais de que a criança está triste. Há muitas maneiras de ajudar a criança em sofrimento. Citaremos apenas algumas:

- Desenvolva e mantenha um diálogo aberto com a criança;
- Encorage a criança a expressar os seus sentimentos;
- Assegure com convicção à criança que terá sempre alguém a cuidar dela e a amá-la;
- Recorra a aconselhamento psicológico se achar que a criança em sofrimento se encontra em risco.

Sérias consequências podem advir se se ignorar esta situação. As crianças que não tiverem na altura certa adultos que lhes transmitam convenientemente o que está a acontecer, que lhes dêem apoio para resolver o seu luto e a deixem exteriorizar os seus sentimentos, poderão vir a ser adolescentes e adultos com muitas dificuldades.

A família, os amigos, grupos religiosos, grupos de interajuda e aconselhamento psicológico poderão ser o suporte necessário para o desenvolvimento de futuros adultos mais estáveis emocional e psicologicamente. Por isso convidamo-lo a entrar nesta rede de pessoas adultas que decidiram “pegar uma criança com o coração para aliviar as suas tristezas”. Verá que vale a pena!

(…)
Pegar uma criança com o coração
para aliviar as suas tristezas.
docemente sem falar, sem vergonha,
pegar uma criança contra o coração
tomar uma criança nos braços.
Mas pela primeira vez
verter lágrimas sem abater a sua alegria
pegar uma criança contra si.
(…)
Pegar uma criança com amor
pegar uma criança tal como ela vem
e consolar as suas mágoas
viver a sua vida nos anos mais próximos.
Pegar na criança pela mão
observando-a até ao fim do caminho. 

Yves Duteil
(tradução livre)


Lília Tavares




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