Biorresonância quântica - uma mentira com mais de 100 anos
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e mudam-se o nome de algumas coisas para continuarem os esquemas fraudulentos.
Há cerca de 10 anos, fui apresentado a um equipamento (semelhante ao da imagem) que prometia resultados extraordinários. Com um custo de aquisição significativo, este aparelho alegava detectar múltiplas patologias, algumas bastante graves, através de uma chamada "análise quântica". O procedimento consistia em segurar um eletrodo, enquanto se introduziam alguns dados no computador, como idade, altura, peso, hábitos tabágicos e outros. O aparelho, conectado ao computador, iniciava a análise, oferecendo um espetáculo de luzes e sons que, de facto, fascina qualquer observador. Cerca de um minuto depois, era emitido um relatório. O "doutor" interpretava os resultados, diagnosticando várias condições e doenças, muitas das quais o paciente desconhecia por completo. Diante deste cenário alarmante, o paciente saía do consultório preocupado com a sua saúde debilitada, mas saía também financeiramente mais pobre, porque lhe aconselharam imensos suplementos, contudo, sem aconselhar recorrer ao médico. Óbvio!!!
Confesso que, inicialmente, o aparelho despertou em mim algum fascínio, pois, em meio a tantas patologias diagnosticadas, conseguia acertar em duas ou três. Contudo, mais à frente explicarei o porquê dessa aparente precisão. Ao mesmo tempo que me intrigava, crescia em mim a curiosidade de compreender como funcionava. Com o nome pomposo de "analisador quântico" e, apesar de caro, com um preço relativamente acessível, prometia diagnósticos que nem a melhor tecnologia médica poderia fornecer. Decidi adquirir um e testar.
A primeira experiência foi comigo próprio, para comparar os resultados com os que o vendedor me havia apresentado. Houve, de facto, várias coincidências. No entanto, 30 minutos depois, resolvi repetir o teste. O resultado foi curioso: já não apresentava problemas na próstata. Meia hora mais tarde, voltei a sofrer de problemas prostáticos e, para piorar, surgiram indícios de complicações cardíacas. Decidi então tentar enganar a máquina. Alterei os meus dados biométricos, reduzindo 20 anos à minha idade. E, para minha surpresa, subitamente não havia mais problemas na próstata, nem colesterol elevado, tudo estava bem.
A partir deste momento, percebi que estava perante uma possível fraude, mas decidi dar mais uma oportunidade à tecnologia e abri o aparelho. Esperava encontrar uma complexa rede de fios e componentes eletrónicos sofisticados. Em vez disso, deparei-me com um simples ecrã digital, dois fios ligados a uma pequena placa USB e pouco mais. Insatisfeito, decidi investigar o software. Consegui aceder ao código e o que encontrei foi uma simples base de dados em Excel, repleta de parâmetros probabilísticos. Uma verdadeira "tecnologia de ponta".
Agora, vamos à explicação sobre por que razão este equipamento fascina tantos, mesmo sendo uma verdadeira fraude, que deveria ser punida criminalmente por colocar em risco a saúde pública e usurpar funções médicas.
Este tipo de aparelho não é novidade. Há cerca de 100 anos, Ruth B. Drown, uma quiroprática e osteopata, inventou dispositivos que alegadamente curavam doenças através de amostras de sangue e ondas de rádio, baseando-se em "vibrações corporais". Apesar de afirmar que as suas máquinas podiam diagnosticar e tratar qualquer paciente remotamente, testes independentes demonstraram a sua ineficácia. Após investigações, Drown foi processada por fraude, e o tribunal classificou a sua prática como charlatanismo.
Um exemplo interessante desta situação foi mostrado num programa televisivo americano, "O Preço da História", onde surgiu um dos dispositivos de Ruth B. Drown para venda. O anfitrião explicou a história do aparelho, afirmando tratar-se de uma fraude médica. Ao abrir o dispositivo, constatou-se que, tal como no meu caso, nada no seu interior justificava as aclamações de cura.
Os dispositivos de "biorressonância quântica" funcionam da mesma forma: puro espetáculo.
Mas por que razão estes aparelhos continuam a ser tão populares? A resposta é simples: são extremamente lucrativos, especialmente quando associados à venda de suplementos alimentares.
O software gera um relatório que evidencia diversos "desequilíbrios", como hormonais, metabólicos e nervosos, tudo baseado em tabelas estatísticas. Ou seja, o diagnóstico é apenas uma interpretação dos dados biométricos introduzidos. Por exemplo, se introduzirmos os dados de um homem de 20 anos, não fumador e sem excesso de peso, o algoritmo dirá que está tudo dentro dos parâmetros normais, talvez apontando para uma pequena questão de pouca relevância. No entanto, se o mesmo paciente, segurando o mesmo eletrodo, tiver a sua idade alterada para 60 anos, o relatório provavelmente indicará colesterol elevado ou outra condição menor, oferecendo a oportunidade para vender mais um suplemento. Isto prova que não há nenhuma leitura de biorressonância, pois o aparelho não é capaz de tal façanha.
O problema grave desta prática é que, são realizados por não médicos, e estão a vender falsos diagnósticos. No caso de uma doença grave, como um cancro, esta máquina não deteta nada, enganando o paciente e colocando o seu futuro em risco. Tudo é uma mentira, tal como a farsa promovida por Ruth B. Drown. Estes aparelhos servem apenas para usurpar funções e enganar pessoas vulneráveis.
Talvez algumas pessoas que utilizam estes aparelhos desconheçam a sua verdadeira natureza, mas muitas sabem perfeitamente que o equipamento não tem qualquer capacidade de diagnóstico. Não faz mais do que proporcionar um espetáculo hipnótico, sem qualquer valor clínico, e que faz enriquecer o vendedor que o usa.
Assim como os aparelhos de Ruth B. Drown ofereciam falsos diagnósticos, estas máquinas modernas fazem o mesmo. Ao acreditarem que estão perante profissionais de saúde, o cliente acredita no que diz a "máquina" e o "doutor". No momento em que acredita, está lançada a armadilha para extorquir quantias avultadas às vítimas.
Existem até vídeos no YouTube que demonstram como estes dispositivos funcionam, e evidenciam os esquemas fraudulentos que representam. Eis dois exemplos:
Se um dispositivo tão magnífico e preciso, capaz de fornecer diagnósticos infalíveis a um custo tão baixo, não é utilizado por médicos, acredita realmente que seja verdadeiro? Questione-se se isso faz sentido para si. Se ainda recorre a este tipo de esquemas, faça um teste por si próprio. Utilize análises de sangue e compare os resultados com os fornecidos por esse aparelho. É possível que alguns parâmetros coincidam, mas lembre-se de que há sempre uma probabilidade de alguns valores corresponderem, dado que os relatórios apresentam inúmeros parâmetros, e entre tantos, alguns podem coincidir. Apelo à sua inteligência: não se deixe enganar por esquemas fraudulentos que podem comprometer a sua saúde. Vá ao médico. Depois de ter um diagnóstico, aí sim, procure os suplementos mais aconselhados para o seu caso.
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