Perspectivas Promissoras: o papel dos compostos naturais na gestão da mucosite oral
A mucosite oral, uma condição dolorosa marcada pela presença de úlceras na boca, manifesta-se como um efeito colateral comum em pacientes sujeitos a tratamentos de quimioterapia, representando uma importante questão de saúde pública no âmbito global do cancro. Tradicionalmente, a abordagem para gerir esta complicação envolve métodos diversos, os quais, apesar de variados, frequentemente resultam em eficácia limitada ou acarretam efeitos colaterais significativos.
A fisiopatologia da mucosite oral (OM) desenrola-se em cinco fases, representando um mecanismo complexo de eventos interligados. Estas fases são:
Iniciação: O dano inicial nas células mucosas orais é causado pela quimioterapia (CT) e/ou radioterapia (RT), começando imediatamente após a administração do tratamento antineoplásico e envolvendo lesão celular direta.
Regulação e Geração de Mensagens: Devido ao efeito citotóxico, ocorre produção de espécies reativas de oxigénio e nitrogénio (ROS e RNS, respetivamente), levando à morte das células epiteliais basais e suprabasais. A quebra do DNA ativa o processo apoptótico, com o p53 e o fator nuclear κB (NF-κB) desempenhando papéis principais, iniciando a produção de citocinas inflamatórias, quimiocinas e moléculas de adesão, marcando o início do dano mucosal visível.
Sinalização e Amplificação: Resultado do dano tecidual, envolve apoptose, ativação enzimática e aumento da permeabilidade vascular, ampliando as moléculas da resposta imune inata, como citocinas pró-inflamatórias, num mecanismo de feedback positivo que leva a mais danos teciduais.
Ulceração: Os sinais clínicos de mucosite tornam-se evidentes, já que a integridade da mucosa e da submucosa é comprometida, causando dor significativa e exigindo um controlo eficaz da dor. Para pacientes neutropénicos, as células imunes não conseguem responder adequadamente, permitindo que vários microorganismos penetrem no tecido conjuntivo.
Reparo da Mucosa: A fase final envolve a reparação ulcerativa e a regeneração da mucosa através da proliferação epitelial, restabelecendo a aparência clínica normal.
Assim, a OM é caracterizada por um processo inflamatório intenso e destruição tecidual, com a morte celular epitelial sendo um evento central, seguido por inflamação, amplificação do dano, formação de úlceras e, eventualmente, a reparação e cura do tecido mucoso. Cada fase neste processo constitui um possível alvo terapêutico para mitigar os efeitos da mucosite.
Os fatores de risco para a mucosite oral (OM) são classificados em três categorias principais: relacionados ao paciente, ao tumor e ao tratamento.
Os fatores de risco para a mucosite oral (OM) podem ser divididos em três categorias principais: relacionados ao paciente, ao tumor e ao tratamento.
No que diz respeito ao paciente, a idade é um fator, embora estudos não tenham sido conclusivos quanto a uma faixa etária específica de maior risco. As mulheres tendem a apresentar um risco mais elevado, assim como aqueles com índice de massa corporal (IMC) abaixo ou acima de 25. O uso de próteses dentárias, a falta de alfabetização em saúde, uma higiene oral inadequada, comorbidades como diabetes mellitus, doenças renais e hepáticas, bem como leucócitos comprometidos, uso de álcool e tabagismo antes e durante o tratamento são todos considerados fatores de risco. Além disso, questões genéticas, como polimorfismos genéticos, e traumas na mucosa, como dentes afiados, também podem aumentar o risco.
Relativamente ao tumor, certos tipos de cancro, principalmente aqueles localizados perto da cavidade oral, apresentam um risco mais elevado de desenvolver mucosite oral.
No que toca ao tratamento, a natureza e dose dos agentes quimioterápicos utilizados, bem como a forma como são administrados, desempenham um papel importante. Terapias como 5-fluorouracil, doxorrubicina, metotrexato, cisplatina, vinblastina, mitomicina, transtuzumabe e docetaxel, melphalan, entre outras, podem aumentar o risco de desenvolvimento de mucosite oral.
Além desses fatores, características como localização, tamanho e estágio do tumor podem influenciar o grau de mucosite oral, assim como o protocolo de tratamento específico, incluindo radioterapia com uma área e dose prescritas. A utilização de dispositivos médicos intraorais também é destacada como uma medida importante para minimizar danos nos tecidos normais durante o tratamento.
As estratégias para prevenir e gerir a mucosite oral, conforme as diretrizes da Associação Multinacional de Cuidado de Suporte em Cancro e da Sociedade Internacional de Oncologia Oral, abrangem várias intervenções com diferentes níveis de recomendação ou sugestão, todas visando prevenir ou tratar a condição. Aqui estão os detalhes dessas estratégias:
Estratégias de Prevenção
1. Cuidado Oral (Sugestão): Aumenta a conscientização do paciente e melhora sua adesão ao tratamento.
2. Crioterapia Oral (Recomendação): Reduz a absorção de drogas pela vasoconstrição local.
3. Terapia de Fotobiomodulação (Recomendação): Promove a cicatrização de feridas e tem efeito anti-inflamatório.
4. Elixir oral de Benzydamina (Recomendação): Inibe a produção de citocinas pró-inflamatórias devido às suas propriedades anti-inflamatórias.
5. Fator de Crescimento de Queratinócitos-1 (palifermina) (Recomendação): Estimula a proliferação e restauração das células epiteliais.
6. Glutamina (Sugestão): Usada pelas células do sistema imunológico.
7. Mel (Sugestão): Inibe o crescimento bacteriano e promove a cicatrização.
8. Suplementos de Zinco (Sugestão): Previne danos aos tecidos e substitui metais redox-reativos.
9. Vitamina E (Sugestão): Protege contra danos nos tecidos por radicais livres de oxigênio.
10. Amifostina (Sugestão): Reduz danos ao DNA e preserva a integridade das glândulas salivares, endotélio e tecido conjuntivo.
Estratégias de Gestão
1. Analgesia controlada pelo paciente (por exemplo, elixir oral de morfina a 0,2%) (Recomendação): Gerenciamento da dor.
2. Elixir oral de Doxepina (Sugestão): Tem propriedades analgésicas e anestésicas quando aplicado topicamente.
Além dessas estratégias, cuidados gerais como manter uma boa saúde e higiene oral, evitar irritações mucosas antes do tratamento, e manter uma nutrição equilibrada são recomendados. Limitar ou eliminar o consumo de álcool, tabaco e certos alimentos também é aconselhado. Em casos de dificuldade de ingestão, uma dieta líquida ou nutrição parenteral pode ser necessária, e o uso de elixir oral específicos pode aliviar as queixas dos pacientes.
O documento aborda várias questões relacionadas ao mel, própolis e geleia real, destacando seus potenciais usos em tratamentos médicos e suas propriedades benéficas.
No que diz respeito ao mel, estudos como o de Khanjani Pour-Fard-Pachekenari et al. (2019) sugerem que o uso de um protocolo de cuidados orais com elixir oral de mel pode reduzir a incidência de mucosite em pacientes submetidos à quimioterapia.
Quanto ao própolis, estudos como os de Sforcin (2016) e Melliou e Chinou (2004) destacam suas propriedades medicinais e sua composição química, bem como seu potencial efeito antimicrobiano. Outras pesquisas investigam o impacto do própolis na saúde oral, incluindo sua influência na difusão iónica através da dentina e seu efeito sobre microorganismos orais.
No caso da geleia real, estudos como os de Nagai et al. (2004; 2006) destacam suas propriedades antioxidantes, enquanto Šimúth et al. (2004) e Matsui et al. (2002) relatam sua capacidade de estimular o sistema imunológico e produzir peptídeos bioativos. Além disso, pesquisas sugerem que a geleia real possui atividade antibacteriana e anti-inflamatória, além de promover a cicatrização de feridas.
Essas investigações ressaltam o amplo espectro de propriedades e aplicações terapêuticas potenciais do mel, própolis e geleia real em diversas condições de saúde.
O documento destaca o potencial dos compostos naturais, como Aloe vera, própolis, geleia real e mel, no tratamento e prevenção de condições como a mucosite oral, uma complicação comum de tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Os compostos naturais demonstraram eficácia na mitigação dos sintomas e promoção da cicatrização, devido às suas propriedades anti-inflamatórias, antimicrobianas, analgésicas e de cicatrização. A compreensão dos mecanismos de ação desses compostos, como a inibição da COX-2 pelo Aloe vera, abre caminho para aplicações terapêuticas. A tecnologia de encapsulação é vista como uma promessa para melhorar a estabilidade e eficácia terapêutica dos compostos. A exploração contínua dos compostos naturais pode levar ao desenvolvimento de novas terapias complementares ou alternativas, integradas aos tratamentos convencionais, para melhorar os resultados do tratamento e a qualidade de vida dos pacientes.
Referência
Ferreira, A.S.; Macedo, C.; Silva, A.M.; Delerue-Matos, C.; Costa, P.; Rodrigues, F. Natural Products for the Prevention and Treatment of Oral Mucositis—A Review. Int. J. Mol. Sci. 2022, 23, 4385. https://doi.org/ 10.3390/ijms23084385
Comentários
Enviar um comentário