BRÓCOLOS
um fitoquímcio que protege do cancro e diminui o risco de contrair a doença
Num tempo e num espaço onde a exposição a agentes tóxicos e
potencialmente carcinogénicos é inevitável, convém criarmos formas de
nos precavermos e de minimizarmos os seus efeitos.
Os últimos 100 anos
correspondem a um aumento exponencial de susbstâncias em circulação no
ambiente, no ar, na água e nos alimentos aos quais o organismo humano
nunca antes esteve exposto em tão grandes concentrações.
Os efeitos a
longo prazo de tão grande experiência coletiva são ainda desconhecidos,
mas podemos já desconfiar que o desfecho não seja o mais favorável para o
equilíbrio dos nossos organismos. Cem anos representam muito pouco
tempo para ajustarmos os nossos corpos a um ambiente tão tóxico. São já mais de 100 as substâncias ambientais identificadas pela Agência Internacional para a Pesquisa do Cancro (IARC) e pelo US National Toxicology Program como carcinogénicas.
Uma substância cancerígena é caracterizada pela sua capacidade de
poder danificar o ADN da célula, o que pode levar à manifestação de
cancro. Essas substâncias podem afetar o ADN de forma direta ou
indireta. Por exemplo, estas podem promover a divisão celular levando-as
a dividirem-se de forma mais rápida, o que pode aumentar as
possibilidades de ocorrer uma mutação do ADN. As substâncias
cancerígenas não causam cancro em todos os casos e todo o tempo. Algumas
podem causar cancro apenas depois de uma exposição prolongada e em
grandes concentrações, outras não precisam de tanto tempo ou
concentração para fazerem dano.
Uma vez que se torna praticamente impossível eliminar os fatores de
risco ambientais com o potencial de causar cancro, precisamos encontrar
outras formas de nos defendermos. O nosso organismo está munido de
vários mecanismos de proteção e desintoxicação. Um grupo específico de
enzimas, chamadas de Fase II, são produzidas com o papel de evitar a
exposição do ADN a substâncias potencialmente cancerígenas, promovendo a
sua eliminação do corpo. Algumas moléculas presentes em certos
alimentos (em particular os legumes crucíferos) têm a capacidade de
induzir e aumentar a sua produção e eficácia. Alguns estudos mostram como o consumo de germinados de brócolos (ricos em isotiocianatos) aumentam
a concentração destas enzimas no sangue, diminuindo assim a quantidade
de substâncias potencialmente cancerígenas em circulação.~
Um artigo publicado no mês passado na revista científica Topics in Current Chemistry
avalia a forma como um fitoquímico presente nos brócolos pode oferecer
proteção contra estas substâncias carcinogénicas ambientais. Os autores
do artigo estão entre os melhores especialistas em cancro, fitoquímica e
toxicologia. Um destes cientistas é o Paul Talalay,
da John Hopkins School of Medicine, conhecido por nos anos 90 ter
descoberto as propriedades anticancerígenas do sulforafano presente nas
crucíferas. Esta equipa, numa série de estudos clínicos realizados na
China, descobriram que o sulforafano poderia proteger-nos de toxinas
presentes no ar ou na alimentação ativando as vias celulares que regulam
a capacidade das células de se protegerem de agressões ambientais.
Os
fitoquímicos presentes nas plantas, têm sido amplamente reconhecidos
como sendo muito eficazes em interferir com inúmeros mecanismos
biológicos capazes de reduzir o risco de cancro e ajudar a controlá-lo.
Na natureza, estas moléculas têm um papel semelhante ao protegerem as
plantas das agressões do ambiente, tais como as bactérias, os fungos, as
infeções, os predadores ou a radiação.
Um desses fitoquímicos tem
atraído muito a atenção dos investigadores nos últimos 20 anos por ser
particularmente multi-eficaz na proteção contra o cancro. O sulforafano é
o produto final de uma reação química entre dois químicos presentes nos
brócolos e outros vegetais crucíferos (couves). Pertence à família dos isotiocianatos os
quais contêm na sua estrutura um átomo de enxofre. Estas substâncias
são produzidas a partir de outras chamadas glucosinolatos. Quando um
glucosinolato reage com uma enzima chamada mirosinase, presente num
compartimento diferente da célula vegetal, dá-se a formação de vários
isotiocianatos e indóis específicos consoante o glucosinolato. Quando
cortamos, esmagamos ou mastigamos um vegetal crucífero, a célula vegetal
quebra-se fazendo com que o glucosinolato (glucorafanina) entre em
contacto com a mirosinase que o transforma em sulforafano.
O sulforafano apresenta várias propriedades
importantes na proteção contra o cancro tais como: a indução das
enzimas de fase II, indução da apoptose, interrupção do ciclo celular,
inibição da angiogénese e propriedades anti-inflamatórias. Neste caso,
os investigadores concentraram-se em perceber como o sulforafano ativa
uma proteína protetora da célula chamada Nrf2 (pronunciada nerf 2).
Dessa forma o sulforafano induz os sistemas de defesa antioxidantes da
célula e a apoptose. A Nrf2 está amarrada a outra proteína chamada
Keap1. As duas proteínas mantêm-se juntas no citoplasma da célula. No
núcleo, existe uma região do ADN que contém genes que protegem as
células do dano causado pelas toxinas cancerígenas. Um destes genes
induz a produção de uma poderosa enzima que protege o p53, um
antioncogene geralmente mutante em vários cancros. Outros genes são
também responsáveis por ativar enzimas que servem como antioxidantes. A
Nrf2 é o elo de ligação que permite a ativação destes genes. Mas esta
proteína só pode ativá-los se se desligar da Keap1, à qual está
amarrada. O sulforafano provoca a separação destas duas proteínas
(pode-se dizer que provoca um “bom divórcio”), de forma a permitir a
Nrf2 viajar livremente para o núcleo e ativar assim os mecanismos
protetores regulados pelos genes referidos. Um dos autores do estudo,
Jed Fahey afirma que “o sulforafano presente nos brócolos é um dos mais
poderosos indutores da sinalização do Nrf2″, o que por outras palavras e
acrescentanto todas as outras propriedades associadas a este
fitoquímico, significa que por muitos motivos e de muitas formas
diferentes, as crucíferas, nomeadamente os brócolos, são dos alimentos
mais eficazes na prevenção e luta contra o cancro.
O artigo conclui dizendo que “alimentos completos ou extratos simples
(destas substâncias) oferecem perspectivas de poderem reduzir um fardo
global em crescimento de forma eficaz e com custos mínimos, em contraste
com a utilização de fitoquímicos isolados ou medicamentos”.
Referências:
http://www.springerlink.com/content/h7564516968t8744/fulltext.html
http://www.cancer.org/Cancer/CancerCauses/OtherCarcinogens/GeneralInformationaboutCarcinogens/known-and-probable-human-carcinogens
http://monographs.iarc.fr/ENG/Classification/index.php
http://ntp.niehs.nih.gov/
http://lpi.oregonstate.edu/infocenter/phytochemicals/isothio/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7554064?dopt=Abstract
http://www.jhu.edu/jhumag/0408web/talalay.html
http://www.springerlink.com/content/b2745u32m0673705/
fonte: blog Projeto Safira
Comentários
Enviar um comentário