Jejum, cancro e quimioterapia - qual a sua relação?

 



Jejum, cancro e quimioterapia - qual a sua relação?

 

O jejum está a ganhar notoriedade no mundo científico devido às suas ações terapêuticas na área da oncologia.

Vários estudos têm sido feitos sobre o jejum que provam a sua eficácia no tratamento do cancro, mas também na redução dos efeitos secundários resultantes da quimioterapia e radioterapia (náuseas, vómitos, mau estar geral, fraqueza, queda de cabelo).

Ao contrário do que possa parecer, fazer jejum não agrava a doença ou piora a constituição do doente, aparentemente enfraquecido pelos tratamentos. Pelo contrário, verifica-se que as células saudáveis resistem melhor a todo o stress a que são sujeitas, ativando vários processos de auto reparação celular, como se entrassem num “modo de manutenção”, enquanto que as células cancerígenas, privadas de nutrientes, sofrem bastante com este processo, levando-as mais rapidamente e inevitavelmente à apoptose (morte celular), pois não possuem este escudo protetor.

Também não leva o doente a um estado de desnutrição. Quando o processo de jejum é bem realizado, o estado nutricional do doente é preservado.

Sabe-se então que, quando se conjuga a quimioterapia ao jejum, as células cancerígenas ficam mais sensíveis aos efeitos das drogas quimioterapêuticas e também da radioterapia, e por estarem mais sensíveis e mais fracas devido à falta de nutrientes, elas sucumbem.

Existem alguns conceitos dietéticos de privação alimentar, mas há três que se destacam: jejum intermitente, restrição calórica e dieta mimetizadora de jejum.

O jejum é definido como a privação alimentar completa, exceto para beber água, com intervalos de ingestão regular de alimentos. A restrição calórica é diferente do jejum, em que a ingestão calórica diária média reduz em 20-40% (entre 300 a 1100 Kcal), sem desnutrição ou privação de nutrientes essenciais.

Em resposta à restrição energética produzem-se alterações metabólicas que induzem efeitos promotores de saúde, como por exemplo, a diminuição da glicose (alimento preferido das células malignas)

O jejum e a restrição calórica compartilham sequelas metabólicas semelhantes, com algumas diferenças subtis, mas críticas. O jejum em comparação com a restrição calórica de longo prazo causa uma diminuição mais profunda na insulina (90% versus 40%, respetivamente) e na glicose no sangue (50% versus 25%, respetivamente). O aumento da utilização de proteínas e lipídios induzido pelo jejum é mais pronunciado do que o induzido pela restrição calórica.


 Quais são os efeitos do jejum no corpo humano afetado por cancro?

Efeitos nos níveis hormonais e metabólicos – redução da glicose; redução da insulina, da IGF1 e leptina; aumento da hormona adiponectina; aumento da produção de corpos cetónicos.

Aumento da imunidade antitumoral  – aumenta a atividade dos linfócitos T, principais células responsáveis pelo ataque às células tumoriais.

Sensibilização diferencial ao stress - muitos tipos de células cancerígenas não são capazes de executar mudanças que permitiriam a sobrevivência no ambiente deficiente em nutrientes e tóxico gerado pela combinação de jejum e quimioterapia.

Resistência diferencial ao stress – as células sãs, perante a redução de nutrientes entram em modo de manutenção, criando defesas contra a quimioterapia, enquanto que as células cancerígenas não o conseguem fazer, não resistindo ao impacto das drogas.


 Como fazer o jejum?

Não é aconselhável fazer jejum sem acompanhamento profissional devido. Embora seja seguro para os doentes com cancro, por diversas razões, podem perder peso e isso acarreta algumas consequências que se devem evitar. Aconselhar-se com um nutricionista talvez seja a melhor opção.

O que parece ser mais eficaz é o uso do jejum intermitente, isto é, fazer jejum alguns dias por semana, saltando a refeição da noite (jantar). Durante a fase de jejum evite a toma de bebidas alcoólicas, estimulantes como café e chá verde, assim como de outras substâncias prejudiciais.

Nos dias em que não está em jejum faça uso de uma alimentação o mais vegetariana possível. Elimine da sua dieta tudo o que seja de porco, coelho e mariscos. Opte por peixes que tenham na sua anatomia escamas, porque desta forma estão mais protegidos da poluição. Restrinja ao máximo produtos lacticínios.

Algumas pessoas optam por fazer um jejum parcial, que se caracteriza por retirar da dieta alimentos de origem animal, e deixar apenas alimentos vegetais.

Algumas experiências feitas com jejum de 24h, antes e depois da quimioterapia, revelaram a redução de efeitos secundários destes tratamentos.

Contudo, seja qual for o jejum que escolher, a água deve ser a substância mais ingerida. Fazendo parte de 70% do nosso organismo, torna-se vital durante todo o processo, para que a célula possa realizar todas as suas funções graciosamente.

Outras práticas promotoras de saúde devem ser observadas tais como: prática de exercício físico, promoção de sono reparador, banhos de sol, respiração profunda e o exercício do perdão e gratidão.



Referências científicas:

  • Ibrahim, E.M., Al-Foheidi, M.H. & Al-Mansour, M.M. Energy and caloric restriction, and fasting and cancer: a narrative review. Support Care Cancer 29, 2299–2304 (2021). https://doi.org/10.1007/s00520-020-05879-y
  • Deligiorgi MV, Liapi C, Trafalis DT. How Far Are We from Prescribing Fasting as Anticancer Medicine? Int J Mol Sci. 2020 Dec 1;21(23):9175. doi: 10.3390/ijms21239175. PMID: 33271979; PMCID: PMC7730661.
  • Nencioni A, Caffa I, Cortellino S, Longo VD. Fasting and cancer: molecular mechanisms and clinical application. Nat Rev Cancer. 2018;18(11):707-719. doi:10.1038/s41568-018-0061-0
  • Kerr J, Anderson C, Lippman SM. Physical activity, sedentary behaviour, diet, and cancer: an update and emerging new evidence. Lancet Oncol. 2017;18(8):e457-e471. doi:10.1016/S1470-2045(17)30411-4

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