A Influência dos Frutos Vermelhos na Prevenção do Cancro
O cancro comporta-se, como um império insaciável que busca expansão e crescimento contínuos. Para isso, possui inúmeras necessidades e estratégias, utilizando diversos caminhos e mecanismos para favorecer o seu desenvolvimento. Esta capacidade de adaptação e sobrevivência tem desafiado os investigadores que tentam entender e combater este astuto inimigo.
Os alimentos, enquanto agentes de quimioprevenção (substâncias presentes nos alimentos capazes de prevenir o aparecimento de lesões pré-malignas, a sua progressão para cancro ou a recidiva do mesmo), destacam-se por atuar em múltiplos mecanismos da carcinogénese (formação do cancro). Os alimentos inteiros, sendo sistemas complexos de substâncias e nutrientes em interação, podem influenciar o metabolismo do cancro em várias frentes simultaneamente. A investigação clássica foca-se em isolar um componente específico pelas suas propriedades terapêuticas e transformá-lo num medicamento. No entanto, esta abordagem pode ser insuficiente perante uma doença com tantos mecanismos envolvidos.
Nos alimentos, existe uma autêntica sinfonia de substâncias que podem interferir com vários processos, como a apoptose, a proliferação, a inflamação, o ciclo celular, a reparação celular, a angiogénese, a produção de enzimas, entre outros. Além disso, a expressão genética pode ser modificada pelos alimentos que ingerimos.
Estudos sugerem, por exemplo, que uma combinação de substâncias presentes nas amoras pode inibir o desenvolvimento do cancro de forma mais eficaz do que agentes individuais focados em desativar um gene específico. Investigadores da Universidade de Ohio estudaram os efeitos das framboesas negras em genes alterados por um químico cancerígeno num modelo animal de cancro do esófago. De mais de 2200 genes afetados pelo químico, 462 foram normalizados nos animais que consumiram o concentrado de amoras. Estes frutos, contendo vários compostos anticancerígenos, demonstram um efeito abrangente na expressão de genes envolvidos no desenvolvimento do cancro.
A maioria dos genes que recuperaram a sua função normal com o concentrado de framboesas está associada à proliferação celular, apoptose, crescimento de novos vasos sanguíneos e outros processos que contribuem para o desenvolvimento do cancro. O tecido mostrou-se mais saudável e normal. O investigador destaca ainda a importância de combinar vários agentes num só, para obter melhores resultados nos efeitos quimiopreventivos.
Os principais componentes destes frutos na sua ação quimiopreventiva são os antocianinas, uma classe de substâncias da família dos flavonóides. Estes investigadores da Universidade de Ohio observaram que as antocianinas inibem o crescimento e estimulam a apoptose (morte programada da célula) no cancro do esófago em ratos. Outra substância identificada é o polifenol ácido elágico. Estudos indicam que uma dieta com concentrado de amoras inibiu o crescimento do cancro do esófago em 30 a 70% e do cancro do cólon até 80%.
Outro estudo da Universidade de Illinois sugere que as amoras podem ser eficazes na prevenção do cancro colo-retal. A pesquisa utilizou dois modelos animais que, devido a um gene desativado, desenvolvem tumores intestinais ou colite (inflamação do intestino que pode levar ao cancro colo-retal). Ambos os grupos foram alimentados com uma dieta ocidental típica e suplementados com concentrado de amoras durante 12 semanas. No primeiro grupo, a incidência de tumores diminuiu 45% e o número de tumores reduziu 60%. No segundo grupo, tanto a incidência quanto o número de tumores diminuíram 50%. Além disso, as amoras reduziram a inflamação crónica associada à colite, inibindo o desenvolvimento dos tumores. Este aspeto é relevante para outras doenças relacionadas com a inflamação, como as doenças cardiovasculares. O autor do estudo, Wancai Young, espera obter financiamento para iniciar estudos clínicos em humanos.
No caso do cancro da mama, também há evidências de que o consumo de frutos vermelhos é benéfico. Em estudos com animais, onde foram avaliados os efeitos de mirtilos e amoras em tumores sensíveis ao estrogénio, uma dieta de seis meses com estes frutos reduziu o volume dos tumores em 70%. A investigadora Harini Aiyer da Georgetown University School of Medicine observou que, ao adicionar ácido elágico a células de cancro da mama tratadas com o medicamento Tamoxifen, estas se tornavam menos resistentes ao tratamento. "Se considerarmos o estrogénio como o combustível de alguns cancros da mama, o ácido elágico funciona como um anti-estrogénio, interrompendo o abastecimento de combustível ou até mesmo parando o motor", explica Aiyer. Além dos efeitos anti-estrogénicos, os fitoquímicos presentes nos frutos vermelhos podem prevenir danos e melhorar a reparação do ADN, inibindo o desenvolvimento do cancro da mama.
Um dos estudos conclui que, para obter os mesmos resultados observados nos modelos animais, seria necessário consumir cerca de meia a uma chávena destes frutos frescos ou congelados diariamente. Gary Stoner sugere que pode haver vantagem em consumir uma grande variedade de frutos vermelhos. Aiyer também recomenda o consumo diário destes frutos, destacando a importância dos benefícios do alimento completo. A combinação dos vários componentes dos frutos vermelhos parece ser mais eficaz na prevenção do cancro. Estudos mostraram que uma dieta de amoras é mais eficaz na redução dos tumores mamários do que uma dieta de ácido elágico isolado. Aiyer explica que isso se deve ao facto de as antocianinas nos frutos terem uma ação sinérgica com o ácido elágico, aumentando as suas propriedades.
Referências:
http://www.aacr.org/home/public–media/aacr-press-releases/press-releases-2009.aspx?d=1237
http://cancerpreventionresearch.aacrjournals.org/content/3/11/1443
http://www.mcw.edu/Hemonc/faculty/StonerGaryMDPhD.htm#.UGBOkaTybIU
http://www.springerlink.com/content/m153753n373v744k/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18444155
http://www.sciencedaily.com/releases/2008/08/080827163933.htm
http://www.sciencedaily.com/releases/2010/11/101102131833.htm
http://preventcancer.aicr.org/site/News2?page=NewsArticle&id=21907&news_iv_ctrl=2302
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2769015/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3024548/
fonte: blog Projeto Safira
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