Microbioma Humano e Cancro: Uma Porta Aberta para Novas Descobertas e Abordagens
Nos últimos anos, a ciência tem-se debruçado sobre um universo até então pouco explorado, mas extremamente promissor: o microbioma humano. Este vasto conjunto de microrganismos que habita o nosso corpo, especialmente no trato gastrointestinal, tem-se revelado uma peça-chave na compreensão de diversas condições de saúde, incluindo uma das doenças mais complexas e desafiadoras: o cancro.
O estudo conduzido por SV Rajagopala e colaboradores em 2017 abriu novas perspetivas sobre como o microbioma humano pode influenciar o desenvolvimento do cancro. Este trabalho sugere que uma disfunção ou desequilíbrio no microbioma pode contribuir para o surgimento de tumores, oferecendo novos ângulos de abordagem para a prevenção e tratamento desta doença.
A relação entre microrganismos específicos e o cancro não é uma ideia nova. A pesquisa "Patobiologia do cancro gástrico induzido por Helicobacter pylori", conduzida por M. Amieva e RM Peek, demonstrou como um único agente patogénico presente no estômago pode levar ao cancro gástrico, ilustrando uma ligação direta entre um componente do microbioma e o desenvolvimento de um tipo específico de cancro.
Além disso, o Projeto Microbioma Humano vem trabalhando para mapear a estrutura, função e diversidade do microbioma em pessoas saudáveis, estabelecendo um ponto de partida crucial para entender as alterações que podem predispor ao cancro. Este vasto repositório de informações convida-nos a repensar sobre a saúde e doença a partir de uma perspetiva microbiana.
Outras investigações revelam que o microbioma oral, tão diversificado e complexo quanto o intestinal, possui uma relação intrínseca com o cancro. Estudos mencionados na lista, como os de E. Caselli e colaboradores em 2020, enfocam na importância de decifrar o papel da microbiota oral no quadro saudável e sua possível conexão com o desenvolvimento de doenças, incluindo o cancro.
Encarar o microbioma como um aliado ou inimigo depende de um equilíbrio delicado, que pode ser a chave para prevenção, diagnóstico precoce e até mesmo novas modalidades de tratamento do cancro. Este universo microbiano, que convive harmoniosamente em nosso corpo, tem o potencial de revelar segredos profundos sobre nossa saúde. À medida que avançamos em nossa compreensão, fica evidente que não estamos sozinhos em nossa jornada pela saúde – e essa pode ser a nossa maior vantagem na luta contra o cancro.
Adicionalmente, é fundamental considerar as abordagens práticas que derivam dessas descobertas para lidar com o cancro. A compreensão da relação entre o microbioma e o cancro abre portas para novas estratégias de prevenção e tratamento da doença. Por exemplo, a manipulação do microbioma através de probióticos, dieta e terapias específicas pode ser explorada para restaurar o equilíbrio e reduzir o risco de cancro. Investigações adicionais nesta área são cruciais para desenvolver abordagens mais eficazes e personalizadas no combate ao cancro, aproveitando o potencial do microbioma humano para melhorar a saúde e o bem-estar.
Por último, é importante destacar a importância da manutenção de um microbioma oral saudável como potencial medida preventiva contra o cancro. Embora o artigo "A microbiota oral e seu papel na carcinogénese" não forneça diretamente métodos de melhoria ou intervenções para otimizar a microbiota oral, destaca a conexão significativa entre desequilíbrios na microbiota oral e o desenvolvimento de cancro. Com base em estudos similares, podemos extrapolar algumas abordagens gerais para melhorar a saúde da microbiota oral e reduzir o risco de desenvolvimento de cancro. Estas incluem a manutenção de uma higiene oral adequada, uma dieta equilibrada, evitando tabaco e álcool, realizando check-ups dentários regulares, gerindo o stress e investindo em pesquisa e desenvolvimento de probióticos específicos para a saúde oral e tratamentos para modulação do microbioma oral.
L.-M. Chung, J.-A. Liang, C.-L. Lin, L.-M. Sun, C.-H. Kao. "Risco de câncer em pacientes com candidíase: um estudo de coorte de base populacional nacional." Oncotarget, vol. 8, 2017, pp. 63562-63573, doi: 10.18632/oncotarget.18855.
Comentários
Enviar um comentário